quinta-feira, 17 de setembro de 2009

FICÇÃO - Naja


Um conto muito bom sobre psicopatas:

Naja

Em um certo dia particularmente quente no deserto, uma naja saiu da sua toca. Era a primeira vez que saia do seu buraco no chão, mas já sabia exatamente o que fazer.

Ela saiu a esmo, até que chegou a um oásis onde resolveu descansar. Logo chegou um homem com uma cabrita. A naja rapidamente foi até a água e viu seu reflexo. Estava linda. Suas escamas negras brilhantes. Seu pescoço bem fechado. Seus olhos mais hipnotizantes do que nunca. Estava pronta para a sua primeira vitima.

O homem, com sede foi até a água, enquanto sua cabrita comia algumas folhas. A naja, silenciosamente se aproximou do homem. Ele ficou encantado com a visão do animal, esquecendo-se do mal que ela poderia lhe causar.

- Bom dia viajante – disse a naja.

- Bom dia – respondeu o homem, sem perceber racionalmente a aproximação do monstro.

A naja usou todos os seus dons para manter o homem com os olhos em si, enquanto ela ia cercando-o. Logo ele estaria no ponto para levar o bote...

A cabrita, em seu canto, fez amizade com uma série de pássaros barulhentos que muito agradavam ao homem. Os pássaros acabaram por distrair, sem querer, a cabrita, fazendo-a esquecer do homem, cada vez mais envolvido com a naja.

Quando a cabrita viu o homem, tentou se aproximar. Ela estava a poucos passos dele, quando a naja mordeu o peito dele, injetando seu veneno diretamente em seu coração.

Sob ação do veneno, o homem muito pacifico, foi até a cabrita e a mandou embora. Os pássaros deram alguns gritinhos, mas ele logo os calou, indo sentar-se próximo a naja.

Os dias se passavam e todos os dias a naja destilava seu veneno no peito do homem. O veneno dominava a cabeça e o coração deste, que vivia encantado com sua beleza e astúcia. Nunca percebera o perigo.

Uma tarde chegou ao oásis um outro viajante. A naja ambiciosa logo quis este também. Acreditava que o veneno que pusera no primeiro era mais que suficiente, mas ela se esquecera de algo fundamental. Os pássaros.

Enquanto a naja se divertia no seu jogo de sedução com o novo homem, os pássaros tratavam de clarear a mente do primeiro. Fazendo-o pensar além do que o veneno lhe permitia.

O segundo homem foi expulso pela naja, que se cansara daquele tolo apaixonado. Entretanto ela não voltou para a sua primeira conquista. Ficara vagando pelo oásis, crente de que ele estaria lá devido o veneno. A arrogância fez com que a naja não visse a chegada de um cordeiro no oásis.

O cordeiro vinha de uma falida caravana, da qual apenas ele sobrevivera. O homem logo gostou do cordeiro. Muito simpático ele. Os pássaros achavam o cordeiro a companhia certa para seu amigo e o convenciam disso.

Logo o estardalhaço das aves chamou a atenção da cobra, que rapidamente dilatou seu pescoço e se aproximou da sua posse. O cordeiro não recuou, e eles ficaram a uma mesma distancia do homem. Um de cada lado. Ele teria que escolher.

Mesmo a distância, a naja lançou seu veneno. Um pouco acertou no homem, mas este estava prestando mais atenção nos balidos doces do cordeiro. Ele caminhou em direção ao quadrúpede. A naja entrou em desespero. Tentou acertar o coração do homem novamente, mas havia, agora, um escudo contra ela. Um escudo feito pelo cordeiro e seus malditos balidos.

O homem foi com o cordeiro, sob uma festa intensa dos pássaros. A naja retorcia-se de fúria. Chorava com a frustração da posse perdida. Voltou para o seu buraco. Esperaria por duas coisas:

1) O próximo desavisado que por ela se encantasse;

2) O seu primeiro viajante, pois uma coisa era certa, apesar do veneno não estar mais na cabeça, ainda existia em grandes doses em seu coração...


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